sábado, 29 de dezembro de 2007

A Reedição dos Marretas

Uma forma de crítica que subsiste na Sociedade Portuguesa é a denominada crítica esclerosada ou mais propriamente, crítica corrosiva doentia, que exercita uma condenação permanente, radical e fundamentalista a qualquer actuação dos detentores do poder, independentemente de existirem aspectos positivos avaliados consensualmente por largos sectores da opinião pública. A graduação da avaliação varia sistematicamente entre o mau e o péssimo e o nosso cantinho à beira mar plantado é um inferno para os seus habitantes e um lugar detestável para se viver! Os fazedores de opinião que assumem aquela postura, comportam-se normalmente como se desconhecessem as dificuldades estruturais seculares do nosso país e avançam sobre os políticos com uma agressividade e uma arrogância como se fossem estes os causadores de todas as dificuldades e limitações que o nosso país atravessa! Como se os políticos portugueses fossem diferentes em termos de inteligência, organização, capacidade de trabalho, determinação e honestidade de todos os outros portugueses, incluíndo os analistas políticos, os filósofos e outros pensadores, cujo trabalho que prestam à comunidade é completamente inócuo e inútil ao progresso do País.
A entrevista que o Expresso publica na sua ultima edição a Pacheco Pereira e António Barreto retrata um pouco o que acabamos de dizer e exemplica aquela forma radical de crítica. Aquela entrevista, que pretende grosso modo fazer um balanço de 2007 e anunciar as perspectivas para 2008, contitui, ao fim e ao cabo, uma autêntica reedição dos Marretas.
Segundo estes distintos analistas, vai tudo mal no nosso país, o crescimento económico foi de apenas 1.5% quando deveria ser de 3.5%, as reformas estruturais não se fizeram,a insegurança prolifera, a comunicação social está amordaçada, as pessoas estão revoltadas, vivemos todos numa sociedade detestável e os governantes são todos umas bestas e o Sócrates é um arrogante. Quanto ao Tratado Constitucional Europeu assinado em Lisboa é completamente inútil porque não dá resposta às questões de natureza social ( Como se a Europa não fosse já hoje o espaço no Mundo onde se pratica uma política com maiores preocupações sociais!), que o tratado é todo obra da Srª Merkel e que Sócrates apenas desempenhou o papel de sargento.
Apenas não criticam a forma principesca como o Expresso os acolheu para a entrevista! O Hotel de Luxo Pestana Palace e com certeza as mordomias inerentes, provavelmente a oferta de uma estadia de uma noite e de uma faustosa refeição,serão certamente, aos seus olhos, condignos para se fazer um balanço da acção governativa por parte de tão ilustres pensadores.
Atente-se porem, mais em pormenor na argumentação do sociólogo António Barreto (AB) no que respeita a um aspecto da entrevista.
Diz AB numa parte da sua entrevista: Um dos grandes falhanços deste Governo foi não ter feito a Reforma do Estado e até às próximas eleições não irá fazer mais nenhuma reforma significativa que seja dura para os portugueses!
Noutra parte da entrevista acrescenta: Fiquei surpreendido com a dimensão do protesto dos portugueses em 2007. Estava habituado a uma pequena fúria ou irritação dos portugueses, as pessoas estão irritadas com a distância despótica e arrogante de José Sócrates. Sinto que a contestação em 2008 irá ser muito maior!
Chama-se a isto crítica corrosiva envolta em desosnestidade intelectual! Barreto sabe perfeitamente que as pessoas protestam pelas reformas que foram feitas nas áreas da saúde, da segurança social e outras e não pelo feitio do 1º Ministro que uns consideram de arrogante e outros de determinado.
Imagine-se então como seria o grau de irritação dos portugueses, se algum Governo neste País, aplicasse a tão famigerada Reforma do Estado de que fala AB, que enviaria para o desemprego milhares e milhares de funcionários publicos? Certamente que AB estará de acordo com a intenção demagógica de Filipe Menezes de desmantelar o Estado em seis meses, caso fosse 1ºMinistro.
Também está enganado quanto ao facto de correlacinar directamente o investimento privado no nosso país com a Reforma do Estado. Digamos que, muito mais importante do que a Reforma do Estado para o investimento público é a transparência e o saneamento das contas públicas, é a casa arrumada, é o défice público reduzido (aquilo que não considera relevante porque segundo diz, vivemos numa sociedade detestável).
AB também sabe que quando o investimento público aparecer então sim o crescimento assumirá o valor dos 3% a 4%.
Mas o jornal Expresso também não fica bem na fotografia!
Em primeiro lugar porque a democracia portuguesa não fica nada a ganhar quando se pretende fazer um balanço à actuação do Governo através de uma entrevista a duas pessoas da mesma área política e viciadas na análise negativista e pessimista da Sociedade Portuguesa.
Em segundo lugar porque a reedição dos Marretas nesta altura do campeonato é no mínimo confrangedor.
Em terceiro lugar porque gastaram uma pipa de massa e prestaram um mau serviço aos seus leitores.
Por ultimo, esta coisa de pessimismo e de optimismo, como se sabe, nada está provado acerca da razão dos que advogam sistematicamente o pessimismo!
Uma coisa é certa...... os arautos do pessimismo são muito mais infelizes que os optimistas.