sábado, 19 de abril de 2008

O ABISMO DE MANUELA FERREIRA LEITE

Todos nós, de uma forma ou de outra, nos habituámos a tolerar a falta de rigôr e objectividade por parte dos ferverosos adeptos dos clubes de futebol quando são chamados a dar as suas opiniões sobre os lances decisivos dos jogos que envolvem os clube do seu coração! Apelidamos nós de fanatismo clubista essas atitudes de distorção de factos desportivos favorecendo o próprio clube.
Porém, quando se trata de análise e discussão política, principalmente quando ela é feita por pessoas com influência no partido que até já tiveram responsabilidades governativas,torna-se crucial que esse exercício seja feito com base em critérios de objectividade e rigor e que o fanatismo político-partidário esteja completamente arredado das suas mentes, sob pena de se minar toda a credibilidade que as pessoas nelas depositam e de se afectar negativamente a imagem do partido a que pertencem.
Vem isto a propósito do artigo de opinião que Manuela Ferreira Leite escreveu na edição do jornal Expresso do passado dia 19 de Abril.
Diz MFL: No tempo do Governo de Cavaco Silva, investir em obras públicas era responder às necessidades elementares do país. No tempo actual, com o Governo de José Sócrates, investir em grandes obras públicas que incluem um plano de construção de estradas que em muitos casos constituem alternativas às que já existem, é uma visão retrógrada cujos efeitos a médio prazo trilha o caminho para o abismo.
Por uma questão de enquadramento da tese de MFL, passemos então em revista, em termos sucintos, as obras que o Governo Socialista vai lançar, que na opinião de MFL, vão conduzir o País ao abismo:

- Novo Aeroporto de Lisboa. Percentagem do Investimento Previsto ( PIP) - 8%

- Novas Ferrovias (Comboio de Alta-Velocidade). PIP - 26,3%

- Energia (Construção de novas barragens). PIP - 24.6%

- Água e Ambiente. PIP - 14.1%

- Vias Rodoviárias. PIP - 16.7%

Que se saiba, obras como o novo Aeroporto de Lisboa e o TGV já constavam da agenda dos Governos PSD, do qual MFL fez parte. Como tal, estas obras não estarão em causa e não estarão com certeza a ser questionadas pelo PSD.
Também relativamente à construção de novas barragens, numa altura em que a nível mundial, urge criar formas de energias alternativas ao petróleo,não nos parece que MFL ouse, publicamente, pôr em dúvida, a inevitabilidade e a oportunidade daqueles investimentos.
Resta então a construção de novas vias rodoviárias, incluindo a de uma nova travessia sobre o Tejo, que MFL diz constituírem alternativas das que já existem no País.
Qualquer leigo na matéria ao analisar o mapa dos futuros empreendimentos rodoviários publicado na edição do Expresso do dia 12 de Abril,constata facilmente que 81% das novas vias foram concebidas para beneficiar o interior do País e para servir o terminal portuário de Sines. São os casos da IP2 (Évora/ Portalegre e Celorico da Beira/ Bragança), A4 ( Vila Real/ Bragança) e IP8 ( Sines/Beja ).
Resta a denominada Auto-Estrada Centro que irá ligar Condeixa-a-Nova à periferia do Porto, a qual reconhecemos ir ficar implantada numa zona na proximidade do litoral norte onde existem já como alternativas a A1 e A17. Desconheço os argumentos subjacentes à necessidade da construção daquela via, certamemte que o poderoso Lobby da região de Coimbra e o Governo saberão dar uma explicação plausível. Mas a construção desta via representa um investimento de 740 milhões de Euros, ou seja cerca de 19% do total previsto para o investimento em empreendimentos rodoviários e cerca de 1.8% do total de 39.5 mil milhões de Euros de investimento previsto em todas as obras. Uma gota de água, portanto, num mar de investimentos!
Podemos assim concluir que as afirmações de MFL carecem da mais elementar noção de rigor e objectividade e inserem-se no âmbito da intervenção demagógica que apenas colhe dividendos num sector da sociedade portuguesa menos informado ou que navega nessas mesmas águas de fanatismo político partidário.
Agora o que podemos deduzir de tudo isto é que, insconcientemente, MFL ao referir-se ao trilho do País para o abismo com a execução de todas as obras públicas anunciadas, ela estaria a pensar não no País, mas sim no próprio PSD! Como é que, no futuro, o PSD poderá assumir funções governativas se já não dispôr de obras públicas para realizar, uma vez que as possíveis e necessárias já teriam sido todas concluídas? E o facto das decisões acerca de todo aquele investimento que se anuncia ficar fora da alçada e competência da clientela Social-Democrata? E as cotas voluntárias para o partido que vão baixar drasticamente? E a liderança do PSD em carrocel para encontrar um líder que finalmente suba nas sondagens?
MFL tem de facto razão para falar neste momento em "Abismo", não para o País, mas sim para o seu partido de eleição, o PSD!

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