domingo, 28 de junho de 2009

ESTA NOITE SONHEI COM A AMIGA DE MST

Esta noite sonhei com a amiga estrangeira de Miguel Sousa Tavares, na sequência do artigo publicado no jornal Expresso desta semana. Nesse meu sonho dei por mim a recrear o diálogo mantido entre MST e a amiga, mas num outro contexto, imaginando que a opção política no passado não tinha contemplado o investimento público e que as auto-estradas e o Alqueva tinham ficado por fazer.

« Segunda-Feira passada, a meio da tarde, faço a Estrada Nacional em direcção ao meu Monte Alentejano situado nos arredores do Redondo, na companhia de uma amiga estrangeira; Quarta-feira de manhã refaço o mesmo percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa. Tanto para lá como para cá, é uma estrada com dois sentidos, muito sinuosa e perigosa, espaçada a intervalos com 3 faixas de rodagem para permitir duas ou três ultrapassagens. A meio da viagem, perto de Vendas Novas, percorridos cerca de 60 Km, o relógio já marcava mais de uma hora de viagem. A estrada estava difícil, o transito era muito intenso e em muitos pontos do trajecto, principalmente nos locais de aproximação aos pequenos centros urbanos, a fila de camiões portugueses e espanhois crescia substancialmente.
Vinda de um país com muitas auto-estradas, a minha amiga está espantada com o que vê.
- É sempre assim nesta estrada?
- Assim como?
- Perigosa, lenta e embichada( Queued of people em inglês)
- É é sempre assim, excepto aos Domingos em que apenas existem camiões portugueses.
- Mas se existe todo este incómodo para as pessoas e se isto tem repercussões negativas para a Economia Portuguesa e se ainda por cima havia dinheiro para gastar dos fundos europeus, porque razão não construíram uma auto-estrada que ligasse Lisboa à fronteira espanhola?
- Bem, sabes... é que existem aí uns governantes que têm uma obsessão pelo endividamento e dizem que a construção dessas vias apenas ia absorver a mão de obra de emigrantes romenos, caucasianos, brasileiros e pretos.
- Então e no interior do país, para Vilar-Formoso, para Bragança, para Castelo Branco, também não existem auto-estradas?
- Não, apenas existe a A1, com apenas duas faixas de cada lado, que liga Lisboa ao Porto. Ah também existe a IP5, que liga Aveiro a Vilar Formoso, mandada construir por Cavaco Silva, onde infelizmente morrem muitos automobilistas em acidentes!
- Então se assim é, os espanhois não vos podem abastecer de comida e outros bens porque os camiões não podem circular nas vossas estradas com segurança e rentabilidade. Além disso as vossas exportações não podem escoar com facilidade, o que agrava o vosso défice.
- Bem quanto à variedade de alimentos disponíveeis no mercado não te sei explicar muito bem porque eu como sempre em restaurantes. Quanto ao défice sei que quando governa o PSD, ele sobe e quando governa o PS ele desce.
-Então e ao menos não se modernizaram na via férrea, nomeadamente nas linhas de alta-velocidade, ficando dessa forma ligados à Europa através de uma via que permite rapidez semelhante à aviação comercial, comodidade e modernidade?
- Sabes o TGV anda a ser estudado há mais de 15 anos, foram gastas fortunas em estudos e planeamentos, mas nunca mais se avança porque o PSD nunca mais chega ao poder!
- Mas ao menos vão investir num novo aeroporto?
- Sabes não é bem assim porque existe muita gente importante que viaja muito, que vive em Lisboa ou arredores, e que não está na disposição de percorrer cerca de 50Km para ir apanhar o avião.
- Então mas o aeroporto da Portela não está a rebentar pelas costuras e além disso a poluíção sonora e ambiental não estão a degradar substancialmente a qualidade de vida dos Lisboetas?
- Bem sabes a ideia é ficar o Aeroporto da Portela apenas para as viagens das entidades governamentais, políticos, gestores e administradores, jornalistas e e outras pessoas endinheiradas que viajam nas carreiras regulares e remeter para o aeroporto militar do Montijo os voos LoW-Cost onde viajam os turistas e emigrantes de baixos recursos.
Ao fim de três horas de viagem, quando já próximos do Redondo, olho para a minha amiga e questiono-a: Estás a ver ali ao fundo aquele rio fininho que é o Guadiana? - -Era ali que estava previsto começar a albufeira que iria ter à barragem do Alqueva que não chegou a ser construída.
-Mas essa barragem não estava destinada a ser a maior barragem da Europa que iria irrigar todo o Baixo Alentejo, promover turisticamente a zona e proporcionar uma fonte inesgotável de energia eléctrica limpa e não dependente do petróleo?
- É verdade tudo isso mas o que é tu queres, o nosso país não é rico, não temos recursos e o endividamento seria afectado brutalmente!
Apesar do sol de frente,impiedoso, ( felizmente que o carro tinha ar condicionado) e do cansaço da viagem que já ultrapassava as três horas,ela tirou os óculos escuros e virou-se para me olhar bem de frente:
- Desculpa lá a ultima pergunta: Vocês são doidos ou apenas complexados ?
- Antes eramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo fora; depois, após a queda do império, fomos dominados por um complexo de inferioridade e adquirimos um espírito tacanho que nos limita a acção, o espírito empreendedor e o progresso.
-Então mas assim nunca mais passam da cêpa-torta ( Não sei como se diz em inglês cêpa-torta). É como a pescadinha de rabo na boca: Como são pobrezinhos, não investem porque temem o endividamento, apesar da cobertura da União Europeia. Como não investem, não ganham riqueza, como tal..... nunca vão deixar de ser pobrezinhos!
- O que que tu queres..... é o fado! Eu por mim, como vou muitas vezes ao estrangeiro apanhar banhos de civilização, não me incomoda nada esta pasmaceira. Até sinto um certo alívio, uma certa descompressão, quando chego ao meu monte.
Ela voltou a colocar os óculos de sol e a recostar-se para trás no assento. E suspirou:
- Bem, uma coisa posso dizer: há poucos países tão atrasados como Portugal onde uma distância de 120 Km seja percorrida por carro em 3,5 horas. Talvez isto também ainda aconteça na Albânia. Mas olha-me só para esta paisagem alentejana. Espero ficar aqui pelo menos 8 dias. Só de pensar na viagem de regresso fico angustiada.
Olha Miguel, já agora pára aí o carro! Obrigada! Como se chama aquela árvore grande com muita sombra?
-É um sobreiro, também é conhecido na gíria como Chaparro!
-Desculpa lá, mas tenho que ir ali atrás daquele "Chapárooh". Sabes foram quase 4 horas de viagem, sem termos visto nenhum posto nem estação de serviço, como existem nas auto-estradas, não posso mais!

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