quinta-feira, 19 de abril de 2007

A imprensa de referência

Vital Moreira, na sua página da Internet desta semana, afirma que a pior coisa que pode suceder à imprensa de referência é perder a confiança dos seus leitores quanto à isenção política. Isto a propósito da campanha de manipulação política envolvendo o curso de José Sócrates, que teve particular destaque nos jornais Público e Expresso.
Relativamente ao semanário Expresso é notório, principalmente nas suas ultimas edições, que a oposição ao Governo domina a actualidade daquele semanário. Os Artigos de Opinião, as Notas da Direcção, os Destaques Expresso, as cartas dos leitores, os Editoriais... todos eles têm convergido no mesmo sentido!
O insuspeito jornal inglês Finantial Times, publicou no dia 10 de Abril um artigo bastante elogioso acerca da actuação do Governo de José Sócrates na área económica, salientando os resultados positivos dos valores do défice orçamental e perspectivando para o nosso país um crescimento económico que nos irá fazer sair da crise em que estamos mergulhados desde 2002.Conclui aquele prestigiado jornal, que Durão Barroso quando visitar Portugal no próximo mês de Julho, quando da cerimónia da entrega da Presidência da União Europeia, irá encontrar um país melhor, mais confiante e mais promissor que o país que ele abandonou sob o espectro de uma recessão!
Entretanto o Jornal Expresso, um jornal de referência na Comunicação Social Portuguesa que actuação tem perante um cenário tão optimista apresentado por um jornal de referência mundial? Os factos que passo a referir são bem elucidativos.
O Governo anunciou no Parlamento, durante o debate mensal ocorrido na penúltima semana de Março que o valor do défice orçamental de 2006 se cifrou nos 3.9%, um resultado que se situou aquem da meta estabelecida pelo Governo no Pacto de Estabilidade e Crescimento. Seguiu-se o tradicional debate com os partidos da oposição, nomeadamente com o PSD, que não apresentou quaiquer argumentos que beliscassem minimamente o discurso do Primeiro Ministro.
Na edição de 24 de Março, o Expresso, não publicando uma única linha sobre o debate mensal, edita um artigo de Manuela Ferreira Leite ( Ponto sem nó), no qual, esta deputada do PSD apresenta seis questões pertinentes sobre o valor do défice apresentado pelo Governo que sugerem que a bondade desse resultado se poderá dever fundamentalmente a uma eficácia da receita em detrimento do controlo da despesa. Acrescenta MFL nesse artigo que gostaria de ver respondidas as seis questões colocadas, uma vez que nestas matérias não acreditava em milagres!
Entretanto o Expresso na sua edição de 31 de Março, que constitui um autêntico libelo acusatório contra o Governo, na sua página intitulada "Destaque Expresso", em nota da Direcção, insurge-se tempestuosamente contra o alegado privilégio e arrogãncia do Governo de não responder expressamente às questões colocadas por aquele jornal, nomeadamente as que, curiosamente, tinham sido colocadas por MFL no artigo acima citado.
Quer dizer, as dúvidas de MFL sobre o défice, que enquanto deputada do PSD deveriam ter sido transmitidas ao seu líder, Marques Mendes, para serem colocadas legitimamente a José Socrates no Parlamento, foram questionadas directamente ao Governo pelo semanário Expresso com a exigência de uma resposta urgente. Será isto jornalismo? Não haverá em tudo isto uma inversão sobre o que deverá ser o papel da Comunicação Social?
O certo é que o Ministro das Finanças, acossado por toda a turbulência orquestrada que vem fustigando o Governo nos ultimos tempos, acabou por responder às questões de MFL na edição do Expresso publicado no dia 6 de Abril. De facto não havia razões para tanto alarido, uma vez que o Ministro confirmou aquilo que tinha sido uma constante do discurso de José Sócrates no Parlamento durante o debate mensal,isto é, que o problema do défice mascarado era obra do passado e que o controle da despesa tinha tido um peso importante na redução do défice.
O Banco de Portugal viria a confirmar esta semana que os impostos e a redução da despesa contribuiram em cerca de 50% cada para redução do défice orçamental de 2006 apresentado pelo Governo.
Relativamente às duvidas que foram levantadas a semana passada acerca da aposta de MFL,enquanto Ministra das Finanças, na recolha de receitas extraordinárias, nomeadamente através da operação de venda de créditos fiscais, com o objectivo de reduzir o défice público, não nos apercebemos de qualquer tratamento jornalistico por parte do Expresso. Será que este jornal aguarda a eventual tomada de posição por parte da Comissão Europeia no sentido de não considerar a venda de créditos fiscais para efeitos de redução do défice, para então abordar o assunto?
O certo é que esta postura do semanário Expresso, retratada neste texto apenas com um exemplo, nos suscita muitas dúvidas acerca da sua isenção e da justeza dos seus critérios jornalísticos!

Nenhum comentário: