terça-feira, 23 de setembro de 2008

Menos Estado..... mais Sociedade Civil ?

Na sua crónica semanal do Expresso, Manuela Ferreira Leite (MFL) aborda de uma forma muito superficial a crise financeira internacional, atribuíndo especial relevância ao efeito pernicioso que o aumento dos encargos mensais devido ao preço elevado do crédito representa para as famílias portuguesas. Quanto ao estado da nossa economia e das repercussões da crise internacional, limita-se a dizer que uns pensam que ela estará muito debilitada devido às políticas do Governo e outros que dizem que a economia portuguesa está sólida e está imune ao ambiente adverso.

E, MFL.... o que é que ela pensa do estado da Economia Portuguesa? Com a sua formação académica e profissional, com o seu currículo de exercício de cargos políticos da área financeira, com o cargo que ocupa como Secretária-Geral do principal partido da oposição,...... não terá ela uma opinião formada sobre esta matéria? Certamente que a terá, mas prefere não dizer nada aos portugueses sobre este assunto,como por exemplo,que foi graças à actuação corajosa deste Governo, no âmbito das políticas económico-financeiras e sociais que implementou, que o nosso país não terá sido muito afectado, até ao momento, pela crise internacional.

Imagine-se que Sampaio não tinha tido a coragem política de demitir Santana Lopes e que o PSD teria continuado a governar o país com políticas irresponsáveis de combate ao défice ( venda de imóveis do Estado, por exemplo) e de eterno adiamento de reformas estruturais indispensáveis ao país?
Imaginam o que significaria um défice de 6% ou 7% na conjuntura actual? Imaginam o que seria uma Segurança Social galopantemente deficitária, sem qualquer margem de manobra para acudir aos mais necessitados? Imaginam o que seria uma Caixa Geral de Pensões com a perspectiva de, a médio prazo, não ter dinheiro para pagar pensões?
Seria o descalabro completo! É claro que restava a UE e o FMI para nos socorrer.

O que MFL ainda vai dizendo timidamente numa tentativa de se demarcar da actuação deste Governo, é que na sua opinião o Estado deveria ter um papel menos interventivo na Sociedade e que deveriam ser as próprias Instituíções e Organizações não Estatais a terem mais poder, mais responsabilidades e mais capacidade interventiva. Já abordamos aqui neste espaço muito recentemente a crítica de MFL ao alegado Paternalismo do Estado perante os cidadãos deste país!

Na crónica desta semana, perante a sua incapacidade para analizar com honestidade política a situação da Economia Portuguesa face à crise financeira internacional, MFL volta a atacar a denominada tentativa do Governo de reforçar o papel do Estado e de interferir com a actuação das Entidades Reguladoras, desacreditando-as, desprotegendo desta forma, segundo ela, os interesses dos cidadãos. Isto a propósito de MFL referir no citado artigo, que uma das consequências resultante da crise internacional iria no sentido do fortalecimento do papel das Entidades Reguladoras no nosso país.

Mas será que esta responsável política ainda não está completamente inteirada das razões estruturais que conduziram à crise financeira nos EUA? Pelos visto não está, de todo! É que segundo afirmam os mais diversos analistas sobre a crise internacional, ela teria resultado precisamente do facto de as Entidades Reguladoras das Instituíções Financeiras daquele país, não terem desempenhado eficazmente a sua função. Dispunham à partida da necessária independência e de todos os meios para desempenharem cabalmente a sua missão, mas foram incapazes de se oporem à proliferação de um capitalismo selvagem sem qualquer controle do Estado. Inclusivé, não foram capazes de equilibrar e regular a actuação das entidades classificadoras de Rating sobre as Organizações Financeiras Privadas. "OU SEJA MENOS ESTADO E MAIS INTERESSES PRIVADOS..... FOI O QUE DEU!"

Interessante seria perguntar à Drª Manuela Ferreira Leite o que pensa ela sobre a imposição do Governo Bush de utilizar o dinheiro dos contribuintes americanos para salvar da falência uma série de empresas privadas ligadas aos sectores segurador, bancário e de crédito à habitação? Em coerência não deveria estar de acordo! Afinal o lema do PSD não é.... menos Estado e mais Sociedade Civil?

Coerência, aliás, que MFL dá mostras, quando após o exercício de funções executivas no Estado ela opta sistematicamente por funções na Privada! Ao fim e ao cabo..."menos Estado e mais Sociedade Civil!"
Por coincidência, ou talvez não, as funções pós governamentais de MFL são sempre ligadas ao mesmo sector que administrou! Foi assim após exercer as funções de Secretária de Estado da Educação durante o Governo de Cavaco Silva, quando assumiu funções como Directora do ISLA e após o exercício do cargo de Ministra das Finanças do Governo de Durão Barroso, quando assumiu funções de assessora no Banco Santander Totta.

A questão que se coloca é se estas incursões de MFL nas empresas privadas não terá mais a ver com "Paternalismo", não do Estado....mas da Sociedade Civil?

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